sábado, 13 de dezembro de 2008

Turismo a encarar de forma consistente

É vulgar ouvir-se dizer que o futuro de Portugal depende do turismo. Mas a sorte não cai no prato sem ser cozinhada. O artigo a seguir transcrito evidencia que se trata de uma actividade económica que exige pensamento profundo, coerente, lógico e abrangente de actividades convergentes e interactivas.

O Dubai, perante as perspectivas do fim do petróleo como «ouro negro»,teve uma ideia inteligente, a de estruturar a sobrevivência do País com recurso a outras fontes de divisas e concluiu que o turismo e as novas tecnologias (informática) bem poderiam ser a chave do futuro.

Mas lá, tal como tinha acontecido no Algarve, cometeram o erro de pensar que o turismo se esgota no «bronzeamento dos presuntos» e construíram abundantes instalações hoteleiras perto da areia das praias.

Também não basta criar campos de golf nos terrenos que sobram nos estreitos intervalos da densa rede de auto-estradas. Em Portugal há muita riqueza para atrair estrangeiros que, além do bronze, procurem aumentar a cultura e os conhecimentos na ânsia de manter o cérebro activo e adiar a chegada do Alzheimer. Desde os marcos históricos da antiguidade, mais ou menos remota, como os castelos e fortalezas ao longo da fronteira, as Linhas de Torres, Aljubarrota, Montes Claros, Buçaco, Almeida, às antigas aldeias de Monsanto, Sortelha, Tibaldinho, etc., há o património museológico industrial e agrícola, e as indústrias tradicionais como a louça de barro preta, em que se destacam Molelos, na encosta Leste do Caramulo, Bizalhães na encosta leste do Marão e Ribolhos no concelho de Castro Daire.

Da louça de barro preta, as três referidas são diferentes entre si e os entendidos não têm dificuldade em as identificar. Por exemplo a de Molelos é tão perfeita que chega a ser confundida com lindas peças de estanho, minério muito abundante na zona.

Isto serve para dizer que apostar no turismo não é para amadores, mas para pessoas com grande capacidade de definir a globalidade do problema para dele ser tirado o máximo proveito em todos os aspectos. Por exemplo: que proveito Portugal tem tirado das pegadas de dinossauro em Belas que ocasionou um acréscimo de quase três milhões de contos na construção da CREL, ou da Pedreira do Galinha em Mira Daire comprada pelo Estado por quase um milhão de contos, ou das gravuras de Foz Côa que fizeram parar a barragem onde já tinham sido investidos mais de 20 milhões de contos, e que impediu reduzir a dependência do petróleo tão nocivo para a atmosfera e o efeito de estufa.

Precisamos de bons políticos e de elites pensadoras prestigiadas que sejam ouvidas antes de serem tomadas decisões de fundo.

Eis o artigo referido:


CRÓNICA DE O 'EXPERT' IGNORANTE
Ferreira Fernandes

Quando os americanos aboliram a polícia e o exército iraquianos, lamentei não me terem contratado para conselheiro. Ter-lhes-ia dito: eh pá, matem os generais mas passem a mão pelo pêlo a uns coronéis. Nenhum país, sobretudo invadido, pode prescindir de oficiais locais (e de exército e de polícia). Mas ninguém me quis ouvir. Agora, foi com o Dubai. Ao princípio também fiquei impressionado com aquelas ilhas em forma de palmeira gabadas pelo Beckham e pelo Figo, aquele prédio mais alto do mundo, aquelas construções desenfreadas e propostas para que os turistas as comprassem. Um dia, fui lá. Dar um passo fora da porta era ficar com os óculos embaciados pela fornalha exterior. E porquê sair quando a cidade era cimento armado sem um só velho bairro árabe para visitar? Por essa altura, as melhores revistas mundiais tinham páginas sobre o El Dorado dos investidores imobiliários. Mas quem poderia querer uma casa num lugar impossível de viver, quanto mais fazer turismo? Esta semana, eis a capa da Newsweek: "Dubai, acabou a festa!" O mundo está perigoso quando eu, nulidade em defesa e em economia, sei mais que os senhores do mundo.

2 comentários:

Jorge Borges disse...

Um turismo de qualidade, bem que poderia constituir uma fonte de rendimentos nacional valiosa. Um alternativa. Teria que ser pensado racionalmente, aproveitando todos os nossos recursos, históricos, naturais, humanos.

Um abraço

A. João Soares disse...

Caro Jorge Borges,
É isso que precisamos. Devemos ter em atenção os vários motivos do turismo: laser, religioso, cultural (paisagem, antropologia, história, arqueologia, museus, manifestações de arte musical e outra, etc.), desportivo, etc.
As praias deverão ser uma parcela do turismo e, de preferência, não a maior.
Abraço
João