quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Eleições. Mais fácil optar

Depois de os partidos recusarem a ética que desaconselha a candidatura de pessoas sob o peso de suspeitas, com um deles a incluir na lista de futuros deputados dois indivíduos arguidos em processos jurídicos, surgiram na comunicação social elementos bem colocados na hierarquia do partido a defender a ética, segundo o ditado antigo «à mulher de César não basta ser séria», pois além de o ser precisa de parecer (Ver aqui e aqui).

Estas posições assentam na convicção geral de que não se deve passar procuração ou delegação de poderes a pessoas pouco ou nada sérias. A ética, apesar da degradação dos hábitos e costumes, não deve nem pode ser esquecida quando escolhemos os nossos representantes para a gestão dos assuntos nacionais com vista a objectivos de longo prazo e à defesa intransigente dos interesses colectivos de Portugal, dos portugueses.

Nos EUA Sonia Sotomayor, só foi nomeada para o Supremo Tribunal depois de todo o seu currículo ser escalpelizado pelo Senado (ver aqui e aqui). O prestígio e a imagem de uma Instituição depende dos seus servidores, bastando uma mancha na vida de um para desprestigiar o conjunto. E, no caso português, os líderes sabem que isso não depende de leis mas apenas de seriedade e sensatez, nos critérios de escolha, pois eles escolhem por tantos critérios pessoais, de amizade, compadrio, favores, conivência, que não deviam desprezar os da competência e da ética.

Mas se, sobre isso, ainda havia quem tivesse dúvidas e quisesse usar de complacência para com os políticos mais tolerantes, agora, deixa de ter dúvidas porque as coisas ficaram mais claras. Ao contrário daquilo que Jorge Sampaio disse durante uma visita ao Sátão e daquilo que Cavaco Silva tem repetido quanto à necessidade de combater a anti-política e de dignificar os políticos, agora, Paulo Rangel (ver aqui e aqui) afirmou e repetiu de forma muito clara, em Castelo de Vide, (Universidade de Verão) que a política nada tem a ver com a ética, nem vice-versa, segundo Nicolao Maquiavel. Ficámos sem dúvidas!!!

Perante isto, quem seja honrado e preze os valores éticos, quem recuse passar carta com todos os poderes a delegados e representantes de pouca ou nenhuma confiança, deve entregar o VOTO EM BRANCO ou VOTO NULO. Não podemos esperar nada de bom de políticos que tão frontal e maquiavelicamente, desprezam a ética.

Já não há razões para nos espantarmos de haver corrupção, enriquecimento ilícito, troca de favores, tráfico de influências, lavagem de dinheiro através do financiamento dos partidos (lei aprovada por unanimidade na AR e, felizmente, vetada pelo PR), etc.

Gente honrada, de bons costumes, que preza a ética, não deve dar o seu aval, através do voto, a candidatos que confessam despudoradamente estar de acordo que a política nada tem a ver com a ética.

Será bom para Portugal que cada eleitor vote de pleno acordo com as suas mais íntimas convicções e não para fazer favor a um amigo ou vizinho, pagar um favor, ou seguir uma decisão antiga que, nessa data, poderia ter sido a mais correcta. Devemos actualizar as nossas reflexões, com os dados que formos colhendo. É mais fácil acertar no euro milhões do que um político maquiavélico que despreza a ética, fazer um bom governo para grandeza de Portugal.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Eleições negócio de clãs

Seria desejável que os políticos pensassem nos interesses do País e na forma de o desenvolver para aumentar as condições de vida, o bem-estar e as comodidades dos cidadãos e que, depois de serem escolhidos pelos votos, colocassem em acção todas as suas capacidades para a obtenção desse fim superior.

Mas, infelizmente para todos os portugueses, a realidade mostra que os políticos pautam as suas decisões pelos seus próprios interesses e os do seu partido. Em concordância com estas ideias surge hoje a notícia «Familiares ‘enchem’ listas do PSD» em que se referem casos concretos do negócio de clã em que a política está transformada.

Mas isto não se passa apenas no partido referido na notícia acima citada. Também hoje se lê a notícia «Parque Escolar: Estado pagou a arquitectos mais de 20 milhões de euros sem concurso». Não é o primeiro caso noticiado deste facilitismo usado na manipulação do dinheiro público. E ficam por esclarecer dúvidas como as seguintes: Qual será o elo de ligação, familiar, de amizade, de partido ou outros que unem esses arquitectos aos governantes. O Ministério da Educação já fez uma negociata que deu que falar com o Dr. João Pedroso, irmão do deputado PS Paulo Pedroso, agora candidato à Câmara de Almada, e também com o Magalhães, com a TLEBS…

Também hoje, no artigo «A Taxa de Roubo», são referidas várias irregularidades referentes a várias situações como, por exemplo, nos mega-projectos que, antes de começar já assinalam derrapagens indiciadoras de que a componente PPF (Pagamentos a Partidos e Figurões) que por vezes acabam por atingir valores que ultrapassam a percentagem, para passarem a ser múltiplos do valor orçamentado. E como nem tudo é transparente e visível, há o factor NSP (Nível de Sonegação Pura), que inclui tudo o que seja trocas em dinheiro vivo em malas, e o GDC (Grau de Desfalque Contabilizável), e financiamentos através dos off-shores.

Será oportuno ler também os artigos «Um governo prometedor» e «Comigo na lista, não mudo»

Enfim notícias alarmantes que fazem pensar seriamente no estado em que o País se encontra e que, por atingirem vários sectores do leque político, não surpreende que venham a ser qualificadas como sendo elementos de campanhas negras, uma contra cada partido!!! E viva o circo.

sábado, 8 de agosto de 2009

Contribuintes pagam abate de carros

Há dias que ando a magicar neste tema, mas fui ultrapassado por outros assuntos. Hoje apareceu o artigo de Ferreira Fernandes que me fez avançar. Transcrevo-o e no fim exprimo algumas reflexões.

A revolta dos carros para abate
DN. 090808. por Ferreira Fernandes

Ubasute, o lugar onde se abandona a velha mãe, pertence ao folclore japonês. Sobe-se à montanha e deixa-se lá, sozinha, aquela que já não espera nada. Na década de 80, Shohei Imamura fez um belo e celebrado filme sobre essa lenda, A Balada de Narayama. Há ainda um poema doloroso e irónico de uma mãe que, transportada às costas do filho até à montanha de Ubasute, vai deixando parte do seu corpo para que o seu menino saiba o caminho de volta.
Desde ontem, também os donos dos carros a cair da tripeça podem levá-los ao abate (de Ubasute?) e trocá-lo por 1500 euros. A vida tem de ir para a frente e a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) aplaude a medida, necessária para combater a crise dos vendedores de automóveis. Mas os velhos Toyotas e outros Fiats são menos fiéis que a velha mãe do poema.

Podem vingar-se, como se descobriu também esta semana na Alemanha. Lá o incentivo é de 2500 euros e tem sido um sucesso (aumentou as vendas de novos em 30%). Mas descobriu-se que mais de 50 mil carros, falsamente dados para abate, foram exportados. O prémio para o abate foi um incentivo para o crime organizado. A falta de compaixão paga-se caro.
Ferreira Fernandes

NOTA: Esta medida que desencaminha muito dinheiro dos impostos pagos pelos contribuintes só produz benefício para a Associação Automóvel de Portugal (ACAP) que, como diz o autor, deve aplaudir a medida. Os vendedores de automóveis regozijam-se. Mas os menos privilegiados pela sorte que trabalham com as mãos sujas de ferrugem, nas muitas oficinas de reparação que existem por todo o País têm que pensar outra vida, porque deixa de haver carros velhos a precisar do seu serviço.

Só há benefício para os grandes grupos de importadores e vendedores de carros novos, enquanto os pequenos reparadores vão para o desemprego, e isto à custa do dinheiro dos contribuintes.

Outro aspecto não menos significativo é o incremento que esta medida dá ao espírito consumista, de desperdício, de ostentação, contrariando a necessidade de uma mentalidade de gestão de todos os recursos que devia nascer desta crise. Isto mostra que o Governo pretende que quando cai um botão da camisa, em vez de pregar o botão, se deve destruir essa peça de roupa e comprar uma nova. Parece que, pelo contrário, a crise devia ter levado as pessoas a pensar conservar o carro enquanto a sua utilização for compensadora e a dar preferência aos transportes colectivos.

Curioso também é que já há carros a mais como se vê na falta de espaço para estacionamento, na quantidade de carros que circulam apenas com o condutor, nas famílias em que há um carro para cada pessoa, ao mesmo tempo que em Portugal não existe indústria nacional de construção de viaturas.

Pergunto: em que medida se pensou nos interesses nacionais, e que objectivo nacional pretendem atingir com tal decisão? Mas há interesse dos políticos em beneficiar os donos da alta finança e das mais fortes empresas.