domingo, 3 de agosto de 2008

Parem e oiçam a música!



Aquela poderia ser mais uma manhã como outra qualquer.

Eis que o sujeito desce na estação do metro, vestindo jeans, camiseta e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora de ponta matinal. Mesmo assim, durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes.

Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.

Três dias antes Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1000 dólares. A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino.

A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte. A conclusão: estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto. Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefacto de luxo sem etiqueta de grife.

Esse é um exemplo daquelas tantas situações que acontecem em nossas vidas que são únicas, singulares, e a que não damos a menor bola porque não vêm com a etiqueta de seu preço.

O que tem valor real para nós, independentemente de marcas, preços e grifes? É o que o mercado diz que você deve ter, sentir, vestir ou ser?

Essa experiência mostra como na sociedade em que vivemos os nossos sentimentos e a nossa apreciação de beleza são manipulados pelo mercado, pelos mídia, e pelas instituições que detém o poder financeiro.

Mostra-nos como estamos condicionados a nos mover quando estamos no meio do rebanho.

(recebido por mail)

5 comentários:

ferroadas disse...

Belo exemplo da decadência humana, onde só o consumismo e a opulência capitalista têm lugar e as artes só têm valor nos grandes salões.

BJS

Meg disse...

Kaótica,
Este fecto traz-me à memória um outro que vi há pouco tempo na TV sobre um determinado comportamento de "apreciadores" de pintura,
Quatro bebés de cerca de 2 anos sentados à volta de uma mesa onde tinha sido colocada uma tela em que tinham sido deixadas tintas de várias cores. A criançada começou a mexer nas tintas com as mãos, chapinharam, enfim, imaginas como ficou a tela.
Essa tela foi colocada junto a outras numa exposição importante, e uma câmara oculta filmava e gravava os comentários sobre a suposta "obra prima" de um pintor desconhecido. Houve até um cavalheiro que achou que o quadro
"revelava uma forte carga erótica".

Haverá algo em comum com esta cena do violinista? Acho que sim.

Um abraço

Zé Povinho disse...

Se calhar muitos dos passantes eram capazes de pagar uma mão cheia de massa por um bilhete para assistir a um concerto do mesmo violinista numa sala de espectáculos com programação dita erudita. Conhecer, ou tão só apreciar, nem sempre é o motivo que leva as pessoas a assistir a certos espectáculos, muitas vezes a intenção é mesmo só aparecer, mostrar-se, aparentar alguma coisa.
Abraço do Zé

FMS disse...

É a tourada por extenso.

Anónimo disse...

O Minotauro ainda não morreu!