sábado, 2 de agosto de 2008

Magalhães, negócio pouco claro

O negócio do computador «Magalhães» apresenta-se pouco claro, sem transparência, com adjudicação sem concurso público e rodeado das habituais palavras hiperbólicas do primeiro-ministro, que deram uma ideia demasiado optimista das potencialidades tecnológicas da indústria portuguesa e das características dos componentes essenciais do Netbook. Vale a pena ler estes dois apontamentos extraídos da Internet (ver os URLs) e recebidos por e-mail

«Magalhães», um computador pouco português

Apresentado com pompa e circunstância por José Sócrates, trata-se de um produto totalmente idealizado pela Intel

Foi anunciado como o primeiro computador português, mas não é bem assim. O Magalhães é originalmente o Classmate PC, produto concebido pela Intel no sector dos NetBooks, que surge em reacção ao OLPC (One Laptop Per Child) XO-1, que foi idealizado por Nicholas Negroponte.

Será, no fundo, um computador montado em Portugal, mais propriamente pela empresa JP Sá Couto, em Matosinhos. Tirando o nome, o logótipo e a capa exterior, tudo o resto é idêntico ao produto que a Intel tem estado a vender em várias partes do mundo desde 2006. Aliás, esta é já a segunda versão do produto.

Este computador ultraportátil já está à venda em vários países, inclusivamente o Brasil, mas nem sempre é conhecido pelo mesmo nome. A ideia não é portuguesa, mas irá dar postos de trabalho na montagem dos componentes. Também permitirá manter bem viva a acção das empresas de comunicações, que irão fazer mais alguns milhares de contratos de acesso a Internet. São 500 mil portáteis disponíveis para as crianças dos seis aos dez anos. Um agrado para os mais novos, que com certeza também satisfará os pais.

Na Indonésia o «Magalhães» é conhecido pelo nome de «Anoa», na Índia é o Mileap-X series, na Itália é o Jumpc e o no Brasil é conhecido por Mobo Kids. O Governo do Vietname percebeu o sucesso da oferta e já o colocou nas escolas a preço reduzido. Uma ideia agora adoptada por José Sócrates.
(…)

Ao contrário da pompa e circunstância difundida pelo Governo, a notícia teve um outro impacto a nível internacional, sendo considerado um grande negócio para a Intel na guerra pela liderança no mercado dos Netbooks com a rival OLPC (One Laptop Per Child - Um Computador Por Criança).

Segundo a porta-voz da empresa, Agnes Kwan, para além da maior venda de sempre destes computadores, a Intel passará a ter direito de conselheira tecnológica do Ministro Mário Lino, que está a liderar o programa. A mesma porta-voz diz que estes computadores (Classmate PC) já estão presentes em mais de 30 países, relata a agência Associated Press.

http://diario.iol.pt/tecnologia/intel-magalhaes-tecnologia-socrates/977084-4069.html


OLPC contra Intel. Diferentes plataformas, com objectivos diversos. Qual o melhor?

A ideia surgiu da mente do «guru» dos media e da tecnologia Nicholas Negroponte. Pretendia que houve um computador por criança, pensando nomeadamente em África. Nasceu a Fundação OLPC (One Laptor Per Child) e o computador dá pelo nome de XO-1. Sem fins lucrativos, visava construir um portátil por 100 dólares.

A ideia foi apanhada por outras empresas. E surgiram outros produtos, como o Classmate PC, da Intel, que surgirá em Portugal como o nome «Magalhães». Este tem sido, aliás, um nicho de mercado muito explorado recentemente, com o surgimento de vários computadores mais pequenos, de baixo custo, conhecidos como Netbooks. Assim aconteceu há cerca de um mês com o Asus EeePC, mas também existe o Everex CloudBook, entre outros.

O XO-1 e o Classmate PC são, porém, destinados ao mercado educacional, assumindo um design dirigido, como o facto de serem ergonómicos, resistentes à água e a algum choque.

«É uma má escolha e não me parece transparente, porque o que tem sucedido noutros países é que é aberto um concurso para a escolha dos melhores produtos. Sempre que isso acontece o produto OLPC tem vencido, como sucedeu no Uruguai e no Brasil», revelou ao Portugal Diário o produtor americano Wayan Vota, criador do site OLPC News e uma das referências nesta área.

«A boa notícia é que Portugal está a apostar na tecnologia, colocando-a à disposição das crianças. Mas o que não é claro é o método. Para além disso, é estranho que a Intel fique como conselheira tecnológica do Ministério responsável. Será que convidariam a Opel para conselheira da indústria automóvel?», questiona, assumindo a perplexidade: «Há aqui uma perda de autonomia de escolha no futuro. Para além disso, não foi bem esclarecido a verba dispendida por cada aluno. Não me parece que tenha sido um processo totalmente transparente».

Afinal o chip não é de última geração

José Sócrates referiu que o «Magalhães» surgirá com o último microprocessador da Intel. Mas tal não corresponde à verdade, como referiu a directora-geral da Plataforma para os Mercados Emergentes, Lila Ibrahim. A primeira leva de produtos levará o processador mais antigo da Celeron e só depois terá direito ao novo chip Atom, da Intel.

Diferentes objectivos

Algo que poderá ter pesado na escolha portuguesa é a produção do computador em solo nacional. «A OLPC não deixa dúvidas. Só constrói na China, para que o processo seja sistematizado e garantido o preço do computador», lembra Wayan Vota.

A verdade é que os objectivos do Classmate e do OLPC XO são diferentes. O primeiro tem como objectivo adaptar um computador normal (preferencialmente em Windows XP) a uma dimensão mais reduzida, com características menos exigentes, para uma utilização simplificada.

A plataforma do OLPC aposta mais do chamado software open-source (livre), que poderá ser totalmente modificado pelas próprias crianças, mediante as suas necessidades pessoais/educativas. Assim, poderá aprender enquanto mexem no computador, como explicou Mary Lou Jepsen, uma das responsáveis pelo desenvolvimento tecnológico do produto.

«O Classmate é mais caro, consome dez vezes mais energia, tem um terço da captação de rede wifi e não pode ser usado durante muito tempo no exterior. O XO não é só mais barato, mas requer uma infraestrutura menos dependente da energia eléctrica e do acesso à Internet. No Peru, por exemplo, podemos pô-lo a funcionar com energia solar de dia e à manivela à noite por cerca de 25 dólares por criança», frisou em entrevista ao site Groklaw.net.

http://diario.iol.pt/tecnologia/magalhaes-intel-olpc-socrates/977089-4069.html

3 comentários:

Zorze disse...

E o mais engraçado foi ver um primeiro-ministro de um estado a fazer uma apresentação como se fosse um funcionário da referida empresa.

Abraço,
Zorze

A. João Soares disse...

Caro Zorze,
Em qualquer actividade bem estudada, decidida, planeada e programada, tudo se orienta para o objectivo e o percurso deve ser controlado para essa finalidade ser atingida. Ora o PM e muitos ministros têm por objectivo aparecer na TV o máximo de tempo. Por isso não admira que se tenha dado ao papel de empregado da firma de Matosinhos, da mesmo forma que antes fora da Renault-Nissam devido ao carro eléctrico, de que já se diz ser um fracasso.
Abraço
A. João Soares

Mentiroso disse...

É vergonhoso para a casta jornaleira trapaceira começar por apresentar a porcaria do computadot como 100% português. Demonstram como trabalham, como são estúpidos, como dizem a primeira que lhes vem à cabeça idiota, como são verdadeiramente irresponsáveis profissionalmente. Enfim, como são uns pobres barda-merdas cujos princípios assentam sobre um pedantismo a toda a prova.