segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A floresta exige mais cuidados

Nesta época outonal é imperioso que se faça o balanço dos fogos florestais ocorridos na estação quente, se analisem as prováveis causas da maioria deles, a forma como foram conduzidas as operações de combate e se retirem as conclusões necessárias à elaboração de estudos que proponham medidas eficazes para prevenir novas ocorrências e melhorar as formas de combate.

Prevenir vale mais do que remediar, mas não basta anunciar novas modalidades de organização da floresta e utilização de modernos equipamentos tecnológicos de vigilância.

Há mais de 15 anos, realizou-se uma reunião na sede da Associação Nacional de Municípios, em Coimbra, na qual estiveram representados a protecção civil municipal de vários concelhos, associações de bombeiros e em que foram oradores vários especialistas incluindo professores universitários que tinham publicado trabalhos sobre o tema.

Passados todos estes anos não se vêm resultados palpáveis a nível nacional, com uma estrutura racional das florestas, seus aceiros, vias de acesso, reservatórios de água, vigilância, etc. Aquilo que se esperava ser o pontapé de saída foi um passo inútil, sem resultados.

Localmente, têm surgido casos exemplares de vigilância da floresta, prevenção, sensibilização das populações, etc. Refiro de memória notícias sobre os concelhos de Alcains, Mortágua e Góis, e que os resultados são elucidativos.

Mas os fogos quando se desencadeiam, não respeitam os limites inter-concelhios e, por isso, não são suficientes as medidas isoladas locais, por melhores que sejam. É indispensável um plano nacional, elaborado com o fito na eficácia e não na visibilidade propagandística. Não basta que o MAI, no início de cada ano, prometa mais dinheiro. Este, só por si, pode nada representar do ponto de vista de resultados. O dinheiro apenas tem significado se for destinado a apoiar projectos bem avaliados e que se mostram bem estruturados e eficientes. Sem ideias e projectos bem delineados o dinheiro de nada serve.

Na Comunicação Social de hoje encontram-se vários títulos que demonstram uma certa motivação para encarar o problema. É preciso aproveitá-la Estamos na época para preparar planos que reduzam os efeitos dos fogos no próximo ano.

Ontem, no Porto, numa conferência integrada na Semana Europeia da Floresta, iniciativa lançada a 20 deste mês pelo Ministério da Agricultura, foi lançada pelo professor Domingos Xavier Viegas, do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais e a Universidade de Coimbra, a ideia de ser elaborado um Plano Nacional de Prevenção na Interface Urbano-Florestal (IUF) para prevenir eventuais desastres ambientais. O Presidente da República, em contacto com os bombeiros referiu que o voluntariado nos bombeiros não pode ser fragilizado. Por seu lado, os Bombeiros querem estabilidade, e os guardas florestais exigem mais atenção às suas condições profissionais.

Perante isto, se o Governo não arranca a sério já, torna se alvo de graves críticas futuras. Uma decisão a tomar desde já, parece ser nomear um grupo de trabalho, pouco numeroso, com elementos independentes, alheios à função pública, com a incumbência de apresentarem um estudo com conclusões e propostas concretas, realistas. Deveria contar com técnicos de protecção civil, bombeiros, docentes universitários com trabalhos publicados, agrónomos, silvicultores, ecologistas.

A influência política só deveria surgir a jusante, depois de terminado o relatório final, para o analisar e tomar as devidas decisões. É um assunto demasiado importante para continuar circunscrito exclusivamente à iniciativa dos governantes.

3 comentários:

Anónimo disse...

É sem dúvida um tema importante e preocupante que tem sido mal e porcamente tratado ao longo dos anos.
Raramente as medidas tomadas, quer de prevenção, quer de combate, incluindo o fretamento/compra de aeronaves de combate inadequadas, têm degenerado em resultados fracos e muito àquem do expectável.
Vamos a ver se este será finalmente um passo certeiro no combate ao maior flagelo português.
Saudações do Marreta.

José Lopes disse...

É difícil que isso venha a acontecer, até porque a subordinação dos bombeiros voluntários começa a tornar difícil o voluntariado, em alguns casos a intervenção dos grupos da GNR começam a suscitar reparos por falta de coordenação, e a limpeza que é fulcral para a prevenção e combate não é feita em grande parte do território.
Talvez, com as pressões do cidadão comum e maior empenhamento das populações algo se altere. Oxalá!
Bom domingo
Cumps

A. João Soares disse...

Caros Marreta e Guardião,
Estamos todos de acordo em dar importância a este assunto e em desejar que lhe seja prestada a devida atenção pelos responsáveis pelo País. E também comungamos dúvidas quanto à aplicação de uma solução eficaz.
Há justificação para o receio de tudo continuar mais ou menos na mesma, com palavras sonantes, proferidas com aparente convicção e, por vezes, com exaltação teimosa e autoritária, mas nada passa das palavras, embora possa vir a ser gasto muito dinheiro de forma vistosa mas inútil, sem a eficácia desejada quanto aos resultados obtidos.
Falta competência aos ocupantes de gabinetes do Estado para estudar a fundo estes problemas e falta-lhes a humildade de a reconhecer e de formar equipas independentes para fazerem os estudos e elaborarem propostas realistas e de sucesso. Vão se entretendo com palavras e promessas.
E, se um dia contratarem um consultor, de gabinete de advogados conhecidos, será para ele confirmar uma solução com que o ministro sonhou em noite de inspiração ou de capricho teimoso!
É o costume a que estamos habituados como bem demonstram os milhões gastos com a Ota.
Abraços
João