quinta-feira, 10 de julho de 2008

A PROPÓSITO DE ALTERNATIVAS...



Hoje é um dia histórico. Pelo menos para mim. A partir deste preciso momento, o Estado Português deixou de contar com um cidadão honesto, sério e cumpridor dos seus deveres e obrigações.
Até então, ao longo dos meus 201 anos, tenho pautado a minha conduta de vida pela lisura, por ideais e por princípios bem defenidos, muitas vezes em detrimento da minha própria satisfação pessoal.
Acabou-se! Acabou-se a mama toda! Chega de ser olhado como um allien, ser tratado como um marreta, ser apelidado de teimoso, casmurro, quezilento, revolucionário, outsider, do contra! Chega!
Estou farto desta gentalha que consporca este país, onde tive a sorte ou o azar de ter nascido; farto desta podridão de valores e atitudes que me rodeia por todo o lado; farto desta presunção globalizada que toma conta da massa cinzenta dos carneiros belmirescos; farto deste cancro de corrupção que mina a sociedade; farto desta trilogia de lambe-botismo, chibaria e compadrio que corroe as empresas, o aparelho do estado e, no fundo, todos os sectores da sociedade portuguesa.
Estou farto! Aliás, já estou farto desta merda há muito tempo. Mas hoje o saco do aspirador rebentou e a merda acumulada esvoaçou a pelo menos 3 kms de altura.
Quando um homem circula no comboio e chama a atenção do revisor para um cabrão qualquer que se diverte a esfregar os cascos nos assentos que os outros utentes vão utilizar, o que é que pode acontecer? O lógico é o revisor advertir o cabrão, correcto? Não, o revisor responde:
- O que é que eu tenho ver com isso? Se quiser vá lá voçê!
Quando um cliente é multado porque se esqueceu de validar o título de transporte, o que é que pode acontecer? O lógico é ser advertido pelo inspector para a necessidade de validar o título, correcto? Não, o cliente é identificado e aplicada uma multa de 185 euros! E o que é que se segue? O cliente deverá proceder ao pagamento da multa dentro do prazo estabelecido, correcto? Correcto. A não ser que... A não ser que a coisa se esqueça se, o cliente entretanto "persuadido", fizer o obséquio de passar para as mãos do filho da puta do inspector metade do valor da multa.
Estes insignificantes mas preciosos exemplos são bem demonstrativos do estado generalizado em que se encontra este país. Podre de ideias, podre de ideais, podre de princípios, podre de valores. Podre. Premeia-se o demérito, desvaloriza-se o mérito, incentiva-se a mesquinhez, deprecia-se o carácter.
Na minha empresa utiliza-se uma máxima engraçada: "Quem trabalha muito erra muito, quem trabalha pouco erra pouco, quem não trabalha não erra, quem não erra é promovido." Então e quem trabalha muito e erra pouco?
Para além disso o chupista do director utiliza a velha regra do bolo para a distribuição dos aumentos, quando os há. 50% da verba disponível para ele, 35% para distribuir por meia dúzia de bufos e lambe-botas de que se faz rodear, e os 15% que sobram pelos restantes funcionários, que não são tão poucos como isso.
Mensalmente recebo na minha caixa de correio facturas para pagar plenas de ilegalidades, com valores acrescidos de taxas, sobretaxas, suplementos e estimativas. Todos nós sabemos que estamos a ser gamados e então? Contrata-se um advogado e processa-se aquela escumalha toda? Gasta-se uma pipa de massa em honorários? Perdem-se dias de trabalho para fazer a coisa andar? Eles bem sabem que muito dinheiro arrecadam por falta de iniciativa do cliente em fazer valer os seus direitos. Eles bem sabem que é o cliente que tem de provar a ilegalidade. Eles bem sabem que a grande maioria fecha os olhos e deixa andar porque não tem tempo nem dinheiro para avançar na defesa dos seus direitos. Todos têm a mesma filosofia, o mesmo marketing, a mesma linha de actuação, bancos, seguradoras, empresas de fornecimento de água, gás, electricidade. Todos.
Quando contratei o meu crédito habitação num banco que é um autêntico mini-mercado de bairro, visto derivar da junção de três mercearias de esquina, apresentaram-me 3 spreads diferentes em 3 balcões diferentes. No último, aquele onde pretendia fazer o empréstimo ofereceram-mo 0,8%. Disse que não. Já me tinham oferecido 0,39%. Onde, perguntou a criatura?
- Noutra dependência, respondi eu.
- Qual? Questionou a criatura.
- Não posso dizer. Respondi eu para não melindrar a "concorrência" interna.
- Acho muito estranho, porque este banco tem uma política interna de spreads igual. Retorquiu a criatura.
- Ah sim? Então analise a situação e depois diga-me qualquer coisa, porque se não baixar o spread vou pregar para outra freguesia. Ataquei eu.
Ao sair a porta do banco toca o telemóvel. Atendo. Era a criatura que se desfez em desculpas. Afinal eu tinha razão, tinha confirmado (que rapidez!) e houve um lapso interno, coisa que não costuma acontecer, etc. e tal. Fiquei com os 0,39%.
Quando mudei de casa, liguei para a Cabovisão a perguntar qual o procedimento que deveria ter para continuar a usufruir do serviço. Disseram-me que não precisava de fazer nada. Bastava indicar a nova morada, o dia e a hora em que queria que a instalação fosse feita e já está.
Muito bem, à hora do dia combinado os técnicos apareceram, activaram o serviço, assinei a folha e bye bye.
Nos 3 meses seguintes não recebi qualquer factura. Estranhei. Até que um dia ligam-me para o telemóvel a comunicarem-me que tinha 3 meses em atraso por pagar e que se não procedesse à liquidação cortavam-me o serviço. Expliquei que tinha mudado de casa e tinha indicado a nova morada à Cabovisão, mas que até ao momento ainda não tinha recebido qualquer factura. A criatura apressou-se a verificar no sistema e informa-me que estava tudo correcto, as factura tinham sido emitidas e enviadas para a nova morada.
- Mas olhe que até ao presente ainda não recebi nenhuma. Atalho eu.
- Não pode ser, está tudo correcto. Continua a criatura.
- Então para onde é que estão a mandar a carta? Pergunto eu já desconfiado que a morada não devia estar correcta no sistema deles.
- Para tal e tal, nº 2.
- Nº 2??!! Mas eu moro no número 3! Exclamo eu cá a pensar para os meus botões que os mentecaptos nem são capazes de anotar uma morada.
- Não pode ser. A informação que tenho é que é o 2.
- Ó minha senhora, o nº 2 nem existe. Quando comuniquei a nova morada referi de certeza nº 3. Além disso estiveram cá os seus colegas a fazer a activação. Como é que eles sabiam que eu morava no nº 3 se aí tem o nº 2? Qualquer coisa não funciona por aí.
- Realmente tem razão. Lamentou a criatura depois de uma aturada verificação.
- Mas, sabe, nós só podemos fazer a alteração se nos enviar um comprovativo da nova morada, um recibo de EDP, da água, qualquer coisa. Continua a criatura.
- O quê? Então eu comunico a morada, dizem-me na altura que não é precisa mais nenhuma formalidade, mandam uma equipa técnica fazer a activação ao número correcto e agora vem-me dizer que tenho que lhe mandar um comprovativo? Então não tem aí a ficha técnica assinada por mim em como os técnicos estiveram nesta morada?! Explodo eu.
- Só um momento, vou passar a um superior. Responde a criatura algo envergonhada.
Volto a explicar o sucedido à criatura nº 2 e, depois de uma longa e aturada dissecação, a mesma responde-me que está bem. Vão passar a enviar a correspondência para a morada correcta (até parece que era um favor que faziam...) MAS teria que proceder à liquidação dos meses atrasados quanto antes senão nada feito.
Ora, então expliquei à criatura que para pagar qualquer coisa tenho que ter na minha posse uma factura com os valores discriminados e os serviços prestados que, certamente, a Cabovisão também não pagava aos fornecedores sem uma factura. Pois sim, e tal, mas não. Ou sim ou sopas.
Marreta por marreta, eu considero-me mais do que eles e nada feito, não paguei. Passado algum tempo chego a casa pego no telefone e... nada. Os cabrestos tinham-me cortado a ligação (o serviço contratado inclui TV cabo + internet + telefone) sem ao menos um pré-aviso. Furibundo ligo para o número de assistência, o único que funcionava, e peço para falar com o graduado de serviço.
- Mas de que é que se trata? Qual é o seu número de cliente? Atalha outra criatura.
- Ó minha senhora, passe-me aí ao superior, que é para eu não estar para aqui a repetir a história vezes sem conta. Se eu lhe vou dizer a si a senhora não vai conseguir resolver nada, por isso, para não perdermos tempo, ligue-me ao carola de serviço. Desabafo eu.
Depois de esperar algum tempo, surge-me uma "encomenda" com vozinha de torrada com mel, explico-lhe o sucedido com toda a calma e aguardo pela reacção dela.
- Ah pois, mas agora para activar novamente o serviço, só pagando as facturas atrasadas. Reage a criatura.
- Mau, mau Maria! Ou ligam-me esta merda já ou isto vai acabar mal. Rebento eu.
Munido de alguns decretos-lei, alguns inventados, diga-se de passagem, trituro a criatura numa berraria enorme, ameaçando a Cabovisão com a ANACOM, a DECO, os jornais, as televisões, os tribunais e, inclusive com uma chacina sem limites que incluía caçadeiras, matracas e catanas. Para terminar ameaço-a que desligo eu próprio a ligação, espeto com aquilo tudo na rua e contrato os serviços da concorrência que, aliás, já andava a sondar persistentemente as possibilidades de adesão.
E parace que foi exactamente este último argumento, mais do que todos os outros, que demoveu a criatura de não reactivar o telefone.
A situação resolveu-se, mas sem que eu tenha deixado de apresentar queixa no Livro de Reclamações da empresa e junto da ANACOM.
Esta história serve como mais um exemplo da cultura comercial e da forma como estas sanguessugas tratam e consideram os seus clientes, no fundo, o seu mais precioso bem.
Este exemplo seria facilmente extensível a inúmeras empresas prestadoras de serviços por este país fora, como concordarão. O desleixe, a falta de organização, de método, a impreparação do pessoal, a falta de formação profissional e, em muitos casos, a falta de higiéne e segurança no trabalho, aliados à qualidade geral medíocre de gestores postos em cargos de grande responsabilidade são grandes males que atrofiam constantemente o desenvolvimento económico do nosso país.
Por tudo isto e por muito mais que haveria a dizer e, face à conclusão de que 800 anos não foram suficientes para mudar mentalidades, outros 800 também não adiantarão muito, o Marreta a partir de hoje vai passar-se para o inimigo, ou seja, para o amigo a partir de agora. A ilegalidade, a fraude, a corrupção, passiva e activa, o crime, vão passar a fazer parte da cartilha de actuação desta alminha pecadora.
Para tudo o que for ilegal e nefasto, ou seja, no fundo, para tudo o que seja bem visto pela sociedade actual podem contar com o Marreta. Se o crime compensa, o Marreta vai ser compensado.

6 comentários:

José Lopes disse...

O Marreta hoje deita fumo, e com razão, mas tinha-se esquecido do pequeno pormenor de que estamos em Portugal. Não creio que consiga engolir os sapos necessários para se passar para o outro lado da barricada, mas lá que dá vontade!...
Cumps

ANTONIO DELGADO disse...

Eu também não creio que se mude...temos de estar unidos!

Um abraço
António Delgado

Ferroadas disse...

Os baroes da vida boa
Vao de manobra em manobra
Visitar as capelinhas
Vender pomada da cobra

As aranhas anda o rico
Transformado em democrata
As aranhas anda o pobre
Sem saber quem o maltrata

Abraço

Anónimo disse...

o truque é ameaçar-se com a concorrência para resolver problemas...Garanto que funciona!!
Para incompetências alegam-se competências (a maior parte das vezes fictícias, é certo)..mas a conversa não chega a 1 minuto!!
Manuela

C Valente disse...

Oh meus Deus, como vai este país
Saudações amigas

Jorge Borges disse...

Grande Marreta!

Dá-lhes com tudo o que puderes, autoridades inventadas, leis com números, barras, de 31 de Fevereiro, mas, sobretudo, não lhes pagues!
As empresas, com o conluio do Estado, já chuparam tudo o que não deviam do cidadão pagador. Que surja, agora, a figura do Cidadão Não-Pagador!
Eu vou, desde já, seguir o teu exemplo e não pago os 3 euros do autocarro que percorre 500 metros para levar um deficiente motor, eu próprio, desde casa até à estação do comboio, quando todos os meus vizinhos que podem andar vão a pé. E acho muito bem que o façam!!! Tudo menos dar 3 ouros aos chupistas-monopolistas da Transportes Sul do Tejo, a TST. Fascistas, ladrões!!!!!!*

Um grande abraço de solidariedade

* Eu - sim, cá o Jorge - recebo a enorme quantia de 301 euros mensais, como pensão de invalidez. E não arranjo trabalho, nem por mais uma!