Carta de “O militante socialista”
Publicação do Secretariado do POUS
Nº 1 de 2008 3 de Julho
Não se pode ganhar nada de novo, perdendo o que já se conquistou!
Unidade para a retirada da assinatura do acordo de “concertação social”!
A assinatura do acordo entre a CIP, o Governo e a UGT, na concertação social, faz aparecer como um facto consumado a aprovação da nova revisão do Código do Trabalho de Bagão Félix / Durão Barroso, tornando-o ainda mais brutal contra os trabalhadores. Teria ou terá que ser assim?
Sobre este acontecimento vamos fazer algumas considerações.
1. O Código do Trabalho de Bagão Félix / Durão Barroso – transposição para a Lei do trabalho nacional de 17 directivas da União Europeia – foi considerado, por muitos responsáveis sindicais, uma autêntica declaração de guerra aos trabalhadores.
2. O PS, quando era oposição e na sua campanha eleitoral, prometeu retirar desta “declaração de guerra contra os trabalhadores” alguns dos aspectos mais gravosos, considerados inconstitucionais, nomeadamente a caducidade dos contractos colectivos de trabalho e a negação do princípio do tratamento mais favorável (1).
Já no congresso da CES, realizado em Maio de
Em Julho passado, em Guimarães – e depois na manifestação de 200 mil trabalhadores no Parque da Nações em Outubro de 2007, diante da Cimeira dos chefes de Estado e de Governo que aprovaram o Tratado de Lisboa – a CGTP levantou a mobilização dos trabalhadores para impedir tão brutal ataque aos direitos laborais e sociais consignados nas nossas leis, a partir da mãe de todas elas (a Constituição da República).
Como explicar, agora, um acordo selado pelo Secretário-geral da UGT e, após o mesmo, manifestações de poucos milhares de trabalhadores – dispersas por todo o país – convocadas pelos dirigentes da CGTP para expressar a vontade de rejeição desse acordo?
O que se passou? Quem pode dizer que a culpa é da falta de força dos trabalhadores?
Sim, a culpa é da divisão e, de forma clara, ela aparece na assinatura inqualificável dos dirigentes da UGT.
Mas por que não foi possível manter a força unida dos trabalhadores, dos sindicatos da CGTP e da UGT, travando o braço de João Proença, sob pena de ser submergido?
100 mil professores, a 8 de Março, no Terreiro do Paço, o que reclamavam para que os deixassem “ser professores”?
Não era a retirada das leis contra a Escola Pública, desde a revogação de um estatuto que os divide, de uma avaliação que transforma a sua vida num inferno, até uma gestão escolar que dá todo o poder aos directores, à boa maneira de Salazar?
A direcção da CGTP estava lá, com todos os sindicatos dos professores, independentemente das Centrais sindicais de que são membros.
A ministra da Educação considerou 100 mil professores “irrelevantes”; relevante era o seu programa, definido a partir da política imposta por Bruxelas, de desmantelamento da Escola Pública de Abril.
Por que não apelou Carvalho da Silva à realização da unidade dos professores, com todos os funcionários públicos e todos os trabalhadores, em coerência com a posição que a CGTP tinha tomado no Congresso da CES, em Maio de 2007?
Por que aceitou mandar os professores para as suas escolas, de mãos vazias, para depois participar nas reuniões de “negociação”, no Ministério do Trabalho – entre o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, a ministra da Educação e os dirigentes da Plataforma dos sindicatos dos professores – e apadrinhar a assinatura de um “memorando” de pacificação dos professores?
Não estava inscrita nesta “pacificação” o enfraquecimento, e mesmo a desmobilização, dos trabalhadores dos outros sectores?
Imediatamente após o “acordo de pacificação”, Cavaco Silva já não receou promulgar o decreto sobre a gestão escolar, a ratificação do Tratado de Lisboa já foi aprovada na Assembleia da República (com o apoio sem falhas do Grupo parlamentar do PS), tal como a seguir foi “concertado” – com os dirigentes dos sindicatos (UGT) dos trabalhadores da Função Pública – um pacote de leis laborais contra este sector.
E, agora, preparam-se para transformar em Lei o pacto sobre o Código do Trabalho firmado em sede de “Concertação social”.
Ainda há tempo, se os dirigentes da CGTP o quiserem, para impedir esta votação
Terá, de facto, que ser assim?
O que os trabalhadores esperam da CGTP é o apelo à mobilização nacional, de todos os sectores, no sentido da retirada da assinatura da UGT do Acordo de “concertação social” subscrito com o patronato e o Governo.
Um tal apelo poderá ser gerador de uma dinâmica de unidade dos trabalhadores com as suas organizações, dirigida à maioria dos deputados do PS na Assembleia da República, para que estes recusem aprovar a violação dos direitos laborais – consignados na Constituição da República portuguesa – tal como o exigem as directivas da União Europeia sobre a desregulamentação do horário de trabalho e a destruição da contratação colectiva.
A União Europeia contra o movimento operário
Nos princípios de Junho, o Conselho de Ministros da União Europeia – aplicando os critérios da “livre concorrência” dos tratados europeus – aprovou uma Directiva sobre o tempo de trabalho. Ela estipula que a jornada de trabalho se estabeleça entre o empregador e o empresário, e não por lei ou negociação colectiva, colocando os picos possíveis do “acordo” individual em 78 horas semanais (com 65 de média semanal, ao longo de um trimestre).
Esta medida veio juntar-se às sentenças do Tribunal Europeu de Justiça, nos casos Laval, Viking e Rüffert, contra os trabalhadores da Suécia, da Finlândia e da Alemanha, as suas organizações sindicais e as respectivas convenções colectivas.
Estas foram razões de fundo que levaram muitos sindicatos operários da Irlanda a mobilizarem-se pelo voto “Não” ao referendo sobre o “Tratado de Lisboa” para a União Europeia.
Estas são também razões de fundo para o Apelo à constituição em Portugal de uma Comissão para a ruptura com a União Europeia.
(1) - Este princípio significa que em nenhum contrato poderia ficar instituído algo que fosse abaixo do que está contemplado na Lei geral; por exemplo, não poderiam ser acordados salários inferiores ao salário mínimo nacional.
4 comentários:
Os problemas não nos chegam pelas "imposições de Bruxelas". Basta notar que há vários países que as têm adoptado sem que isso lhes faça mossa como em Portugal. O problema é como cá são aplicadas. Põem sempre o carro à frente dos bois. O governo anterior queria também impor taxas para a entrada de veículos em Lisboa sem em primeiro lugar tomar todas as medidas de controlo do tráfego, como a reorganização dos transportes públicos, o estacionamento a tempo limitado e gratuito, etc.
Quanto ao código de trabalho foi o mesmo, adoptou os princípios sem ter constituido as bases. esses princípios não causam mal nos países que se organizaram devidamente, mas em como foi feito em Portugal é um assalto aos trabalhadores, um verdadeiro crime político.
mentiroso
Tens e não tens razão: por um lado as directivas são transversais aos países da UE e a contestação também existe nos outros países, só que os media portugueses não lhe dão muito relevo porque não convém. Temos hoje em dia uma cambada à frente dos destinos da UE, altamente comprometida com os EUA (e pelos) e mais ou menos veladamente a desprezar a Democracia (julgo que isto se trata tanto mais óbvio quanto os próprios que criaram as regras do jogo agora as procuram mudar porque o jogo não lhes foi favorável). Refiro-me, claro, ao Tratado de Lisboa. As políticas económicas da UE são nitidamente neo-liberalistas e seguem ao sabor das leis do mercado global especulador e destrutivo dos meios de produção nacionais, favorecendo o grande capital. Já ouviste falar do grupo Bilderberg? Não se trata de uma ficção, mas sim de um "clube" onde se decidem os destinos ao mais alto nível, à porta fechada, sem que os meios de comunicação sequer o refiram. Não há primeiro-ministro (ou em vias de o ser) que não passe por lá antes, provavelmente para receber recomendações e instruções (olha que até o Santana Lopes lá foi, no mesmo ano que o Sócrates!). Entretanto tens razão quando dizes que o que cá chega para ser aplicado ainda é refinado com requintes de malvadez. É que somos muito cumpridores e por isso, com o fantasma do complexo de inferioridade, ainda caprichamos que é para nos sairmos bem, ou seja, tornamo-nos mais papistas que o papa. Ora se o papa já é mau, imagine-se o resultado final (o ensino é um bom exemplo). Além do mais, como vamos sempre na cauda da Europa e somos um país periférico, quando as coisas começam cá a ser aplicadas já deram prova nos outros países que eram nefastas, mas nós insistimos em aplicá-las na mesma, só para não dizerem que não somos capazes. A corrupção, o favorzinho, o tráfico de influências, a cunha e o lambe-botas costumeiro e, principalmente a chica-espertice fazem o resto.
Mas olha que a origem perigosa de todos os nossos males são mesmo os eurocratas instalados na UE e os Bilderbergs (auto-nomeados "senhores do mundo") que se estão a lixar para o futuro dos povos e da humanidade. Hão-de voltar a ser varridos! Quanto mais alto é o voo maior há-de ser a queda!
Querida Kaotica,
eu sou o fã do teu "Tens e não tens razão". Mesmo que seja para irritar e sem argumentário suficiente.
Visito o teu blog regularmente e concordo com quase tudo o que escreves. Atenção, estou a pôr a razão do teu lado. Gosto do teu sentido de raiva e revolta. Que também é o meu.
Mas, vejo, que às vezes misturas muitos conceitos ao mesmo tempo. Sai-te tudo de uma forma muito forte. É preciso canalizar bem essa energia, já pelo que me apercebi és uma Mulher Magnética (eu tenho outras explicações, para essas formas de manifestação).
Portanto, minha querida (eu sei que isso te irrita), continua.
Beijos,
Zorze
Post Scriptum I: No jantar blogoesférico, não vale, dares-me porrada. Estou a brincar.
Post Scriptum II: Já reparaste que a partir de 1986, para, os agricultores portugueses o tempo avariou ?
Olha o Zorze!
No jantar blogosférico, meu rico, nem sabes o que te espera! Vamos a ver quem vai ser o primeiro a ir ao tapete (e olha que não preciso de te tocar com um dedo) ;-)
Antes de 1986 já havia o Projecto-Lei Barreto (querido Barreto!), e o Mário Soares, e o que Mon Ami Mitterand... ou seja a CEE era um bocadinho mais pró-social (ou fingia ser) mas já não se ensaiavam nada em destruir o que era nosso para abrirem as fronteiras de par em par aos produtos dos países que hoje, mesmo com a crise mundial que engendraram, estão qualquer coisa mais prósperos do que o nosso.
Não há que ter medo de dizer: basta desta União Europeia! Não saímos da Europa por romper com as vossas instituições e por não aceitarmos que as vossas directivas se venham sobrepor às nossas leis nacionais. Queremos é pertencer a uma Europa onde nações soberanas possam cooperar. Também muitos julgavam que não podíamos subsistir sem as colónias e afinal ainda estamos cá.
Se misturo tudo é por que isto está mesmo uma grande embrulhada. Que me perdoem os que me lêem.
Bjos
Enviar um comentário