terça-feira, 29 de julho de 2008

Partidos, para que servem?

É suposto que, em democracia representativa, o povo soberano tenha de delegar em pessoas que ache idóneas para, em seu nome, tratarem dos assuntos nacionais para benefício dos cidadãos. E como não é natural que todos pensem da mesma maneira, acabam por surgir grupos ou partidos políticos, como delegados e polos de atracção dos votos do povo soberano.

Mas não parece ser conveniente que os militantes dos partidos levem muito a peito a designação «partido» porque, para ser eficiente, será preferível que esteja inteiro, como uma equipa coesa, unida e com espírito de missão. Não deve ser um corpo triturado como um monte de areia, mas sim como um bloco em que a areia esteja aglomerada por um cimento adequado a que pode chamar-se espírito de equipa, disciplina ou amor ao objectivo estratégico que convirja para o desenvolvimento de Portugal e a felicidade e bem estar das pessoas, principalmente as mais carentes de recursos.

Ora, ao contrário destas reflexões, os principais partidos parecem apostados em se transformarem no monte de areia sem cimento, o que cria más perspectivas para o País, ultimamente fadado ao desaire.

O PSD, até agora o maior partido da oposição, teima em não se aglutinar em torno de uma directriz respeitada pelos principais militantes. Quando se pensa que eles agora vão ganhar juízo, logo surge a desilusão. Ao derrubarem Santana elegeram o Mendes, mas, em vez de o apoiarem convictamente, depressa começaram a campanha para o derrubar. Elegeram Menezes, com o apoio da maioria, mas logo os «barões», incapazes de acção, mas que se consideram donos do «partido», começaram a cortar-lhe as pernas e, o mais grave, quando as eleições legislativas estavam a curta distância. Manobraram à vontade e das eleições internas saiu vencedora Ferreira Leite, uma escolha que por ser democrática devia ser respeitada. Mas os donos dos cordelinhos, não podem estar quietos sem brincar com eles e estão já a começar a puxá-los novamente. Para quê? O que pretendem para o Partido e para o País? Que resultado desejam obter nas próximas eleições legislativas? Ao menos lutem para não ficarem abaixo do terceiro lugar!!!

O CDS, por seu lado, parece não querer ficar atrás na corrida para a desorganização total, para a pulverização em areia fina, sem cheiro de cimento, sem coesão, nem disciplina. E também não é de agora, pois a luta pelos poleiros vem de longe. Agora, há a notícia da desfiliação de 31 militantes da juventude do partido, de Setúbal, por discordarem do líder.

Mas esta falta de coesão e espírito de equipa não se passa apenas nos partidos da oposição que já estiveram no Governo, pois o PS, embora no Governo, está também a mostrar desagregação muito visível, desde as atitudes independentes de Manuel Alegre, aos atritos com João Cravinho sobre a corrupção e o enriquecimento legítimo e, hoje a notícia de que militantes de Viseu (distrito em que o PS deve enfrentar a supremacia do PSD) atacam o líder do Partido, em vez de o apoiarem com vista a manter a posição das eleições anteriores. Mas fundamentam a sua posição em não concordarem que no partido haja uma claustrofobia asfixiante, onde nada se debate, em vez de haver diálogo aberto suscitando a participação dos que ocupam cargos políticos a diversos níveis, porque um partido que reduz a participação e pretende apenas um «silêncio cúmplice e de consonância com o status quo de importantes personalidades» acaba por não evoluir por não receber ideias frescas e sugestões práticas, por não alimentar a convergência de esforços.

Com este panorama, os portugueses que pensam com isenção e sem compromissos com qualquer cor politica, têm razão para viver preocupados com a vida que estamos a preparar para as gerações vindouras, que muito irão sofrer devido aos erros dos pais e avós.

2 comentários:

José Lopes disse...

Em regra, o cimento que une os responsáveis partidários é o poder, e não as convicções, e isso torna-se particularmente visível quando se procede a eleições dentro destes grupos, onde aparecem diferentes candidatos, e propostas políticas tão diversas que não encaixam, em grande parte, nos ideários que dizem defender.
É pena que sejam tantos a mover-se por ambição e não por convicção e em defesa do interesse do país.
Cumps

A. João Soares disse...

Caro Guardião,
A explicação reside nas suas últimas palavras, «interesse do País». Eles não sabem o que isso é. Nunca se ouviu falar de uma reunião para definir quais os principais interesses do pais e estabelecer prioridades entre eles.
A luta pelo poder é pelo poder pessoal. Se ao menos fosse o interesses do partido não haveria tanta traição aos líderes eleitos, a tão curto prazo das próximas legislativas. Não dá tempo para ganhar apoios de eleitores em quantidade suficiente para terem bons resultados.
Um abraço
A. João Soares