sábado, 12 de julho de 2008

Coisas Imaginárias

Das várias definições de ficção escolhi esta da Enciclopédia Larousse: "Acto ou efeito de simular, fingimento; criação do imaginário, aquilo que pertence à imaginação, ao irreal; fantasia, invenção". Isto para chegarmos à ideia que vivemos num mundo completamente ficcionado, refiro-me aos preços de bens materias e não materiais. A Lei da oferta e da procura serviria na sua génese para equilibrar preços e produções consoante as variáveis da oferta e procura. A explicação lógica tem a melhor das intenções, logo, viveríamos num mundo mais justo e com o preço mais justo. Só que a natureza humana consegue desvirtuar em absoluto este sistema, que, poderia resultar numa comunidade de seres éticos e com respeito pelo o próximo. Mas como o nosso estado evolutivo ainda é a selva, acontece exactamente o contrário.
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Vejamos, na nossa sociedade, uma pessoa que fala sozinha, que diz que vê coisas que mais ninguém vê, diz-se logo que está maluquinho ou não é muito certo da cabeça. Vamos agora supôr a seguinte situação:
"Um homem chega a casa depois da sua jornada de trabalho e a sua mulher pergunta-lhe como correu o seu dia, ao qual ele responde - Olha eu hoje comprei uma produção de trigo que ainda não existe e vendi 2 toneladas de café da Indonésia que ainda não foi cultivada e tenho três petroleiros parados no oceano à espera que o preço suba mais um pouco. A mulher diz-lhe - Querido voltaste a esquecer-te de tomar o Prozac outra vez!" (esta última sou eu a brincar).
Ou seja, o mercado de capitais, é o irreal, aquilo que não existe, a ficção, só que, revestido de seriedade, credibilidade porque se dá valor a isso. Todos os dias úteis se transfere muito, muito dinheiro de uns para outros. É tudo virtual. Ninguém vê a cor do dinheiro. Tudo contabilisticamente guardado em suportes informáticos.
Há muitos anos na América alguns financeiros propuseram a agricultores que lhe davam X pela sua próxima produção. O agricultor que dependia do factor climatérico para ganhar mais ou menos, aceitava, porque assim, tinha um rendimento certo. Então se tinha um ano muito bom e o lucro da sua produção era X+Y ele ficava com o X contratado com o financeiro e este ficava com o Y. Se fosse ao contrário ganhava na mesma o X e ficava o financeiro com o prejuízo. Assim foram os primódios dos futuros. Hoje é muito mais complexo, mas, a base é igual.
Que o diga o Société Générale (banco francês) que no ano passado - por intermédio de um seu funcionário - perdeu muitos milhões de euros, ou seja, passaram para outras mãos. Os responsáveis logo se descartaram de que nada sabiam, nem os auditores, ninguém sabia de nada. Descredibilizaram o rapaz dizendo que ele não era muito certo e tal, técnica habitual. Só que, quando ganhava dinheiro para o banco estava tudo bem.
Os preços das acções das empresas não reflectem o real valor das mesmas. Especula-se, espalham-se boatos, são dadas informações a conta-gotas, tudo, para manipular os preços, e claro está, ganhar dinheiro. Há conta de quem ? Não interessa.
Nos luxuosos restaurantes de Manhattan decide-se o fecho de fábricas no outro lado do mundo. Importa lá se há pessoas que deram quase uma vida inteira de trabalho para a empresa. Tudo está no deve e haver.
Veja-se por exemplo o caso da Galp no Brasil. Estratégicamente sai a informação que se descobriu mais um poço de petróleo e logo as acções disparam. Quando já têm a informação toda, compassam-na no tempo para subir o valor das acções a seu bel-prazer.

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Diamantes, outro exemplo, de manipulação artificial de preços. Sei através de um familiar que trabalhou muitos anos numa Companhia Belga na Lunda Norte em Angola que diamantes há muitos. Mesmo muitos. E que depois da independência também serviu para financiar a máquina de guerra da UNITA. Nos pescoços de muitas madames brazonadas e nas colecções de jóias de casas reais está uma pequena percentagem dos diamantes prospectados e lapidados. Existe um monopólio de algumas Companhias Belgas e Holandesas que compram tudo o que aparece e guardam, muito bem guardadinho em Antuérpia e Amsterdão (do que se sabe) muitos diamantes em bruto vindos de África, de zonas de guerra, alguns ainda vêem com sangue de alguém que foi para o Extrafísico. Mas, facto, é que o diamante, é uma pedra preciosa, uma pedra rara e valiosa. Morre gente em guerras inócuas, gente que fica estropiada e crianças que ficam sem Pais. Mas o Preço é que interessa. Azar de quem foi apanhado no meio. Interesses mais relevantes se impõem. O Filme "Blood Diamonds" feito para o mass-market e tirando as Loves Stories que adornam habitualmente estes produtos, está muito bom e mostra bem a questão dos diamantes em África.

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A questão do sub-prime americano outra ficção imaginária da sobre-valorização dos imóveis, serve de desculpa para tudo, quando se fala de que isto está mau. Lá muita gente não consegue pagar os empréstimos, depois os bancos executam as hipotecas, no final as habitações valem muito menos do que está escriturado e o valor que lhes dão nem dá para limpar o rabo.
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Por fim a Galp. Todos batem na Galp nos dias de hoje. Entre as petrolíferas a Galp é o elo mais fraco, todos nós sabemos. Mas volto à questão ética. Obviamente que esta situação tem suporte legal e admnistrativo. Mas moral e éticamente como é possível a mesma empresa que compra o petróleo no mesmo fornecedor, refina nas mesmas instalações, tem preços muito diferentes em Elvas e Badajoz. É uma questão a pensar. O nosso (des)governo diz que não tem margem orçamental para baixar o ISP mas não tem qualquer problema em estar a ganhar mais receita com o aumento dos preços.
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Qualquer semelhança com a realidade deste post é pura coincidência.
Post Scriptum : Post de 2008/05/29

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