domingo, 13 de julho de 2008

Confiança no Poder é indispensável

Um comentário de Fernando Vouga, enfatiza a necessidade de confiança dos cidadãos na honestidade e competência dos governantes, o que merece ser meditado de forma séria pelos políticos. Por isso aqui trago algumas cogitações sobre o tema.

Como militar, com brilhante folha de serviços ele sabe que um líder só o é integralmente quando inspira total confiança nos seus seguidores. Sabe, por teoria e por prática, que um comandante, principalmente nos mais baixos escalões, se não inspira confiança nos seus subordinados de forma a estes o seguirem até à morte, poderá, num momento crítico, olhar para trás e verificar que está sozinho, o que será um «suicídio», pois não será poupado pelo inimigo que, a seguir, destruirá também a sua unidade.

Um fraco rei faz fraca a forte gente. E no futebol, a confiança no treinador é indispensável para a equipa ganhar o campeonato. Não é por acaso que muito se fala no moral do balneário.

Entre nós, a falta de confiança nos políticos além de experiências anteriores, tem agora razões muito fortes e persistentes: desde a confusão sobre as habilitações literárias, às promessas falsas e enganadoras, à «politica do chocolate», às «medidinhas», ao aparecimento nas TVs só para se mostrar, com o disfarce de mais uma promessinha, ao deslocamento a qualquer promoção empresarial como a do carro eléctrico, as viagens ao estrangeiro quando as comunicações permitidas pelo choque tecnológico, tanto do gosto do actual Governo, permitem a conversa e a negociação sem sair do gabinete, tudo isso mina a confiança que existia no início.

O caso da promoção da Nissan-Renault foi caricato, não só pelo desconhecimento da lei sobre um caso em que tinha decidido falar, mas principalmente pela aparente intenção de querer fazer passar a ideia de que o carro eléctrico foi uma criação deste Governo, ou de Portugal!!! Ou de que a substituição do petróleo seja uma invenção de portugueses!!! Como se pode ter confiança em alguém que age como um mau vendedor da banha da cobra?

Mas, repito aquilo que aqui já escrevi de que, nos primeiros meses, considerei que este foi o melhor primeiro-ministro depois do 25 de Abril, porque mostrou intenção de fazer as reformas, que de há muito eram necessárias, na estrutura do Poder, para desenvolver Portugal em benefício dos portugueses. Porém, começou por criar uma equipa fraca e por não a liderar de forma coerente e eficaz, com uma estratégia dirigida para objectivos bem definidos, e concretizada de forma coordenada e controlada. Fracasso, de que resultou um conjunto de recuos, com os cidadãos a apertarem os cintos diariamente enquanto os tubarões vêm a barriga crescer, alargando os cintos de forma ostensiva e desavergonhada.

Infelizmente o mal já vem de longe, já o Eça, o Guerra Junqueiro e outros descreviam o «estado» da época com palavras que ainda hoje são actuais. Grande parte dos nossos políticos, tendo saído de um povo atrasado, não souberam sobressair e mostrar capacidade e competência. Tive um mestre agora falecido e de quem tenho saudades que, em 1980, num curso de pós graduação de um ano lectivo em que o tema de fundo era «O Portugal que somos», a propósito dos portugueses, dizia «somos poucos, pobres e profundamente ridículos». Desde então, não temos melhorado em eficácia, mas as despesas dos governantes têm aumentado em espiral.

Para se concretizarem as reformas de que o País precisa com urgência a fim de não continuar a afastar-se a ritmo tão acelerado da média europeia, é indispensável conquistar a confiança dos cidadãos, de qualquer quadrante, para aderirem com esperança de êxito às alterações. A oposição deve comprometer-se com as reformas a fim de que estas não sejam colocadas de lado na mudança de Governo, deitando por água abaixo o esforço feito e os recursos gastos e os que deixaram de ser criados.

Mas a confiança não se conquista nem se mantém com inverdades, jogo oculto, medidas injustas, favoritismos, conluios, corrupção, medidinhas, «política do chocolate», «tachos dourados» e «pensões milionárias». Já não é cedo para se entrar no bom caminho, e, por isso, não convém adiar mais.

3 comentários:

José Lopes disse...

Com esta classe política não vamos lá, com toda a certeza. Apetece-me sugerir o "outsourcing", e experimentar sermos governados pelo executivo finlandês ou dinamarquês durante uma legislatura. Quem sabe se não teriam por cá resultados semelhantes aos que conseguiram nos respectivos países.
Cumps

Jorge Borges disse...

Caro A. João Soares,

Gostei imenso do desafio intelectual que o seu texto me suscita. Pelo menos, é o efeito que teve na minha modesta condição de seu comentador, agora.
Assino por baixo todas as características que refere serem imprescindíveis para uma boa liderança: credibilidade, convicção, vontade de construir um grupo coeso, unido em torno do seu chefe por convicção e nunca, jamais, por simples respeito por uma hierarquia, entre todas as outras que refere e não vou enfadonhamente repetir.
O eleitorado ficou convencido com a personalidade, força, convicção, etc., de José Sócrates, no momento em que lhe deu - a ele, ao PS e ao programa eleitoral que apresentaram - a maioria absoluta para governar Portugal. Só que...
Eu resolvi esperar antes de me pôr a criticar, como é minha natural tendência...
O tempo foi passando e comecei a desgostar-me (ah!, não votei nele, esquecia-me...). E ocorre-me agora a bem conhecida sentença do cardeal Ashton, quando foi proclamada a tese da infalibilidade do Papa, no Concílio Vaticano I: "Se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente". Ora, foi precisamente o que aconteceu a José Sócrates e ao PS.

Alternativas procuram-se!

Um abraço amigo

A. João Soares disse...

Caros Guardião e Jorge Borges,
Dois comentários que se completam, se reforçam. «Alternativas procuram-se». A resposta: o «outsourcing».
Já tenho aqui sugerido que o exemplo do futebol por vezes deve ser seguido. A FPF quando não encontra cá dentro um treinador, vai buscá-lo ao estrangeiro e o Scolari fez um bom trabalho. Uma pequena equipa de gestores públicos estrangeiros poderia ser uma solução para o País, com um prazo para endireitar isto, depois iria inserindo os melhores portugueses. até que o Governo fosse apenas de Portugueses com um ou dois consultores estrangeiros até deixar de ser necessário. Durante este governo, os partidos ficariam suspensos e haveria um conselho de veteranos, cujos pareceres não seriam tornados públicos para não voltar ao nocivo mediatismo de agora, para controlar tal governo e evitar desvios perigosos que pudessem afectar o interesse nacional. A autoridade máxima continuaria a ser do PR.
A origem de tais técnicos poderia ser realmente finlandesa, dinamarquesa, norueguesa ou sueca, apenas de um destes países ou com elementos de cada um.
Receio bem que esta «fantasia» possa vir a tornar-se realidade por imposição da UE, antes de ir para outra alternativa mais lesiva das nossas tradições históricas.

Abraços
A. João Soares