segunda-feira, 9 de junho de 2008

PARA FALARMOS ALGO ATUAL.


"Ao se dirigir, com justa razão, aos adversários de boa fé, Bakunin lhes demonstra a inanidade de sua crença nesta autoridade divina sobre a qual foram fundamentadas todas as autoridades temporais; ele lhes prova a gênese puramente humana de todos os governos; enfim, sem deter−se naquelas origens do Estado que já estão condenadas pela moral pública, tais como a superioridade física, a violência, a nobreza, a fortuna, ele faz justiça à teoria que daria à ciência o governo das sociedades.

Mesmo supondo que fosse possível reconhecer, no conflito das ambições rivais e das intrigas, os pretensos e os verdadeiros homens de ciência, e que se encontrasse um modo de eleição que fizesse esgotar infalivelmente o poderio daqueles cujo saber é autêntico, que garantia de sabedoria e de probidade em seu governo poderiam eles nos oferecer? De antemão, não poderíamos, ao contrário, prever entre estes novos senhores as mesmas loucuras e os mesmos crimes que entre os senhores de outrora e os do temp presente? Inicialmente, a ciência não é: ela se faz. O homem de ciência do dia nada mais é que o ignorante do dia seguinte. Basta que ele pense ter chegado ao fim para, por isso mesmo, cair abaixo da criança que acaba de nascer.

Mas, tendo reconhecido a verdade em sua essência, não pode deixar de se corromper pelo privilégio e corromper outros pelo comando. Para assentar seu governo, ele deverá, como todos os chefes de Estado, tentar parar a vida nas massas que se agitam abaixo dele, mantê−las na ignorância para assegurar a calma, enfraquecê−los pouco a pouco para dominá−los de uma altura maior."
Qualquer coincidência com a realidade é mera semelhança!

2 comentários:

Jorge Borges disse...

Caro Paulo,

Reflexão bem actual, na pura actualidade efémera de todas as coisas destinadas a deixarem de ser actuais no dia seguinte. Por força de nova actualidade, que será destruída pela efémera actualidade do dia seguinte...
Por ser tão forte era dura lei da História - em que o tempo curto dificilmente fará o que o tempo longo, o das estruturas históricas, pode fazer - talvez tenha preferido Maquiavel evitar construir uma ciência política intemporal e tenha , assim, optado por fazer do conselho a um príncipe concreto uma espécie de manual político. Falível, diria eu.
A ciência dos nossos tempos - a política e a outra, a tecnológica - sofre do mal inerente ao tempo curto: cedo se desactualiza. Nostálgico, um pouco, mas talvez preferível, visto que nenhum reizinho científico, desta forma, dificilmente ocupará o lugar do político pragmático, destronável pela força do outro da mesma espécie que, numa sociedade democrática, lhe tentará roubar o lugar...
Desta forma, a sua conclusão final fica demonstrada pela simples força da própria realidade política! As massas, apesar de ignorantes (ou assim conservadas artificialmente), estarão à mercê da vontade de quem as quiser manipular para nova conquista do poder.

Um abraço bem real

Anónimo disse...

"se o mais ardente dos revolucionários, tiver o poder absoluto, um ano depois ele será pior do que o pior dos ditadores"

in Bakunine

Sim amigo, as coisas pouco ou nada mudaram de então para cá.

Como dizia Trotsky, "expor aos oprimidos a verdade sobre a situação é abrir-lhes o caminho da revolução".

Apesar de pensarmos que sabemos tudo, chego à conclusão que nada sabemos.

De que vale colocar-mos 200 mil pessoas na rua manifestando-se contra o governo, se não sabemos depois, tirar dividendos da mesma.

A economia portuguesa é manobrada pelo sector bancário (poucos portugueses não estão dependentes dela) e dois ou três grandes capitalistas. O resto é paisagem.

Abraço