sábado, 17 de janeiro de 2009

18 DE JANEIRO DE 1934

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Não tem qualquer sentido reconduzir o 18 de Janeiro à Marinha Grande. Fica mais do que demonstrado que a versão oficial (interesseira, por natureza) e a versão do Partido Comunista (também obviamente interesseira) ao prestarem destaque quase único à Marinha Grande, aos vidreiros e à liderança comunista não logram comprovativo na realidade dos factos.
Ganha sentido, sim, «recolocar» o 18 de Janeiro na sua dimensão histórica exacta: um movimento operário insurreccional, que visava a reconquista das liberdades sindicais, a par do derrube do regime do Estado Novo.
Neste contexto, a Marinha Grande é um episódio «mediático» (assim o diríamos na linguagem corrente), porque envolve uma ocupação da vila pelos revoltosos ainda que de duração muito curta , o assalto aos correios e a rendição da GNR. Sobretudo esta é, de facto, paradigmática. Mas não há greve, não houve «soviete» nem içar de bandeira vermelha nos Paços do Concelho.
O episódio da Marinha Grande é, por outro lado, reposto quanto à autoria do seu comando: se é verdade que a CIS e o PC têm peso significativo na direcção do Sindicato Nacional dos Vidreiros, não é menos verdade que se comprova a participação empenhada da CGT e de trabalhadores de outras correntes político-sindicais.
Fica igualmente comprovado que o movimento operário insurreccional, de que expressões concretas vão ter lugar para além da Marinha Grande, se gera e desenvolve com o concurso das duas principais correntes sindicais a anarquista e a comunista e com o envolvimento dos sindicalistas socialistas ( a Federação das Associações Operárias) e da corrente sindicalista autónoma (COSA — Comité das Organizações Sindicais Autónomas).
Fátima Patriarca descreve bem os entendimentos e desentendimentos surgidos entre estas várias correntes e clarifica melhor o seu peso respectivo. É indubitável que a CGT e a corrente sindical anarquista tiveram, neste processo, uma influência marcante. Isto não elimina o papel dos comunistas que não pode ser esquecido ou menorizado , mas repõe a verdade essencial: e essa é a do contributo das várias tendências sindicais (anarquista, comunista, socialista e a dos autónomos), segundo os factos que conseguiu demonstrar. Não me parece que seja muito importante, hoje, «contar espingardas», ou seja, procurar apurar se os anarquistas foram mais decisivos do que os comunistas, ou se os socialistas ou os autónomos não tiveram significado relevante. Houve uma convergência de esforços, emergiu uma implicação de todos mesmo que não tenha ocorrido uma unidade estratégica, organizativa, táctica, como parece evidente pela comprovação dos desencontros, pelas falhas de articulação, pelas recriminações que, «antes e depois», choveram de uma banda e de outra, em recíprocas acusações.
Neste contexto, importaria retirar a conclusão de que o «18 de Janeiro» merece ser comemorado, doravante, não apenas na Marinha Grande, como tem sido tradicional, mas também em Silves, em Sines, em Almada, no Barreiro, zonas onde a «história que se fez» deixou na tumba as ocorrências essas, sim, muito significativas do que ali se passou; mas onde a «história que hoje rompe novos véus» já permite, sem margem para dúvidas, reconhecer que o «18 de Janeiro» é ali que conquista contornos historicamente mais iluminantes. Em suma, Silves, Sines, Almada, Barreiro e outras localidades, precisam de ser «transladadas» da campa rasa em que as colocaram para o «panteão» do verdadeiro «18 de Janeiro».
# ferroadas
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2 comentários:

Anónimo disse...

O chamado Soviete da Marinha Grande foi um marco na História da resistência antifascista, com participação dos militantes anarco-sindicalista e do PCP, embora na altura o camarada secretário-geral Bento Gonçalves tenha considerado a revolta da Marinha Grande como “uma anarqueirada”. Foi um episódio épico na gloriosa luta contra a fascização dos sindicatos, um feito heróico da classe operária. Os revolucionários do 18 de Janeiro, que foram deportados para o Campo da Morte, então criado, o Campo de Concentração do Tarrafal. Um exemplo de grande coragem revolucionária.

ABRIL DE NOVO

Maria Isabel Pedrosa Branco Pires disse...

Olá Ferroadas

Vai ao meu Blogue e vê o que postei no dia 18. Tenho antepassados que foram para o Tarrafal.

Um Abraço Libertário.

Isabel